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Papa aos universitários: saciar a fome de verdade e de sentido é uma tarefa necessária
Leão XIV celebrou a missa com os estudantes das Universidades Pontifícias e assinou a Carta Apostólica "Traçar novos caminhos de esperança", 60 anos após a declaração "Gravissimum Educationis". Em sua homilia, enfatizou que é preciso ter um "olhar amplo", vencer "a preguiça intelectual" e derrotar a "atrofia espiritual".
Por Grace Soares
Publicado em 27/10/2025 17:31
Palavra do Papa

O Papa Leão XIV presidiu, na tarde desta segunda-feira (27/10), na Basílica de São Pedro, a missa com os estudantes universitários das universidades pontifícias, no âmbito do Jubileu do Mundo Educativo que teve início nesta segunda-feira.

Porém, antes da missa, ao lado do Altar da Confissão na Basílica de São Pedro, o Papa Leão XIV, assina a carta apostólica "Traçar novos caminhos de esperança", 60 anos após a Declaração Conciliar Gravissimum Educationis de São Paulo VI. A carta será publicada na terça-feira (28/10), aniversário do documento do Concílio Vaticano II.

O Papa assinando a Carta Apostólica “Traçar novos caminhos de esperança”
O Papa assinando a Carta Apostólica “Traçar novos caminhos de esperança”   (@Vatican Media)

"Estar neste lugar, durante o Ano Jubilar, é um dom que não pode ser considerado dado adquirido, sobretudo porque a peregrinação para atravessar a Porta Santa nos lembra que a vida é viva somente se estiver em movimento, se souber fazer algumas “passagens”, ou seja, se for capaz de celebrar a Páscoa", disse o Papa no início de sua homilia.

“Desse modo, é bonito pensar que ao celebrar o Jubileu nestes meses, a Igreja experimenta este estar a caminho, lembrando-se de que precisa constantemente se converter, seguir Jesus sem hesitações e sem a tentação de querer ultrapassá-lo, que precisa sempre da Páscoa, isto é, de “passar” da escravidão à liberdade, da morte à vida. Espero que cada um de vocês sinta sobre si o dom desta esperança e que o Jubileu seja uma ocasião através da qual a sua vida possa recomeçar.”

A seguir, Leão XIV se deteve no Evangelho, proclamado durante a celebração, que apresenta a imagem de uma mulher encurvada que, curada por Jesus, "pode finalmente receber a graça de um novo olhar, um olhar mais amplo".

O Papa durante a assinatura da Carta Apostólica “Traçar novos caminhos de esperança”
O Papa durante a assinatura da Carta Apostólica “Traçar novos caminhos de esperança”   (@Vatican Media)

"A condição de ignorância, que muitas vezes está ligada ao fechamento e à falta de inquietação espiritual e intelectual, assemelha-se à condição desta mulher: ela está toda curvada, dobrada sobre si mesma, e por isso lhe é impossível olhar além de si", disse ainda o Papa, acrescentando que "quando o ser humano é incapaz de ver além de si mesmo, da sua experiência, das próprias ideias e convicções, dos próprios esquemas, então permanece prisioneiro, escravo, incapaz de amadurecer um juízo próprio. Tal como a mulher encurvada do Evangelho, o risco é sempre o de ficarmos prisioneiros de um olhar centrado em nós mesmos".

Derrotar a atrofia espiritual

Segundo Leão XIV, "esta mulher curada obtém esperança, porque pode finalmente levantar o olhar e ver algo diferente, ver de uma nova maneira. Isto acontece especialmente quando encontramos Cristo na nossa vida: abrimo-nos a uma verdade capaz de mudar a vida, de nos distrair de nós mesmos, de nos tirar dos nossos fechamentos".

“Quem estuda eleva-se, amplia os seus horizontes e as suas perspectivas, para recuperar um olhar que não se fixa apenas no chão, mas é capaz de olhar para o alto: para Deus, para os outros, para o mistério da vida. Esta é a graça do estudante, do pesquisador, do estudioso: receber um olhar amplo, que sabe ir longe, que não simplifica as questões, que não teme as perguntas, que vence a preguiça intelectual e, assim, derrota também a atrofia espiritual.”

O Papa recordou que "a espiritualidade precisa deste olhar, para o qual o estudo da teologia, da filosofia e de outras disciplinas contribuem de maneira especial". Segundo o Pontífice, nos tornamos especialistas em detalhes da realidade, "mas somos incapazes de ter novamente uma visão de conjunto, uma visão que una as coisas através de um significado maior e mais profundo". "A experiência cristã quer nos ensinar a olhar para a vida e a realidade com um olhar unificador, capaz de abraçar tudo, rejeitando toda lógica de parcialidade", sublinhou.

Leão XIV saudando os estudantes das universidades pontifícias
Leão XIV saudando os estudantes das universidades pontifícias   (@Vatican Media)

Leão XIV exortou os estudantes universitários e todos aqueles que se dedicam à "pesquisa e ao ensino – a não se esquecerem de que a Igreja de hoje e de amanhã precisa desta visão unificadora".

“É importante cultivar esta unidade, para que o que se faz nas salas de aula da universidade e nos ambientes educativos de todos os níveis e graus não permaneça um exercício intelectual abstrato, mas se torne uma realidade capaz de transformar a vida, de nos fazer aprofundar a nossa relação com Cristo, de compreender melhor o mistério da Igreja e de nos tornar testemunhas audazes do Evangelho na sociedade.”

Estudantes das Universidades Pontifícias durante a celebração
Estudantes das Universidades Pontifícias durante a celebração   (@Vatican Media)

Tarefa educativa

De acordo com Leão XIV, "ao estudo, à pesquisa e ao ensino está associada uma importante tarefa educativa". Ele exortou as universidades "a abraçarem com paixão e compromisso esta vocação". "Educar assemelha-se ao milagre narrado por este Evangelho, porque o gesto de quem educa significa levantar o outro, colocá-lo de pé como Jesus faz com esta mulher encurvada, ajudá-lo a ser ele mesmo e a amadurecer uma consciência e um pensamento crítico autônomos. As Universidades Pontifícias devem poder continuar este gesto de Jesus", disse ele.

“Trata-se de um verdadeiro ato de amor, porque há uma caridade que passa precisamente pelo alfabeto do estudo, do conhecimento, da busca sincera do que é verdadeiro e por aquilo que vale a pena viver. Saciar a fome de verdade e de sentido é uma tarefa necessária, porque sem verdade e significados autênticos pode-se cair-se no vazio e até morrer.”

Leão XIV concluiu, dizendo "o que recebemos enquanto buscamos a verdade e nos dedicamos ao estudo nos ajuda a descobrir que não somos criaturas lançadas por acaso no mundo, mas pertencemos a alguém que nos ama e que tem um projeto de amor para a nossa vida".

 

Fonte:Vatican News

 

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